quarta-feira, julho 18, 2007

Sobre o fim da concessão pública da RCTV

No dia 27 de maio de 2007 a renovação da concessão pública da emissora Radio Caracas de Televisão(RCTV) foi negada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez; a emissora saiu do ar e foi substituída por uma Rede de TV estatal. A RCTV era o canal mais antigo e com a maior audiência na Venezuela.
A justificativa oficial do governo venezuelano para a não renovação da licença, foi de que a RCTV participou do golpe contra o presidente Chávez em Abril de 2002, quando Chávez foi afastado do poder por 48 horas, e também porque a emissora não vinha cumprido sua "função social". Segundo me consta, o governo venezuelano não apresentou qualquer prova de que a emissora tenha participado do episódio.
A decisão gerou protestos ao redor do mundo, inclusive na própria Venezuela. Um grupo de estudantes saiu às ruas de Caracas (capital do país) em protesto contra a decisão. Os senados brasileiro e americano emitiram notas de desaprovação à medida; que foram mal recebidas por Chávez. A mídia internacional considerou a não renovação da concessão pública da RCTV como uma violação à liberdade de expressão.
Fato é, que a RCTV era um dos poucos canais onde a oposição tinha espaço na imprensa venezuelana, cada vez mais dominada por órgãos pró-Chávez. A única emissora de TV a fazer oposição a Chávez agora é a Globovision, que não atinge todo o território venezuelano como acontecia com a RCTV.
A mídia eletrônica esquerdista (brasileira) parece que aprovou a decisão de Hugo Chávez. Por alguns sites de viés esquerdistas que visitei, todos afirmavam com convicção que a decisão do presidente venezuelano visava a "democratização dos meios de comunicação". A esquerda brasileira ainda não perdeu o hábito de puxar o saco de ditadores. No caso de Chávez, um proto-ditador. Na mídia esquerdista, com destaque para a Agência Carta Maior, encontrei uma informação desencontrada. Como se pode perceber no link:(http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14215) a notícia informa que Andrés Izarra "não pode ser acusado de chavismo". Porém a informação não bate com o seguinte link: (http://www.talcualdigital.com/Especiales/Protagonistas_izara.asp) onde lê-se que Izarra é um colaborador do governo Chávez. Para quem não sabe, Andrés Izarra era funcionário da RCTV em 2002 e havia renunciado ao seu posto na emissora por supostamente ter ficado indignado com o tratamento que a mídia venezuelana deu ao caso do golpe em 2002.
Ainda tratando da mídia esquerdista- os sites da internet que visitei foram unânimes em apontar como prova de que a RCTV era uma emissora golpista- um documentário chamado "A Revolução Não Será Televisionada"- de dois cineastras irlandeses que apontam que no dia em que Chávez foi reconduzido ao poder em 13 de Abril de 2002, a imprensa venezuelana não deu importância ao fato, além de terem participado ativamente do complô anti-Chávez. Acontece, que existe um documentário chamado "Raio X de uma mentira" que desmente veementemente as informações divulgadas pelo documentário "A Revolução Não Será Televisionada". Entre os erros acusados estão: de que o golpe foi orquestrado por uma elite branca e opressora, de que o documentário dos irlandeses omite informações como a de que o principal sindicato venezuelano participou da manifestação, de que os cineastas editaram e manipularam imagens, que omitiram o fato de Chavéz realmente ter renunciado ao seu mandato, que as emissoras de TV foram sitiadas no dia em que Chávez retornou ao poder etc. O documentário "Raio X de uma mentira" foi gravado em uma palestra na Universidade Metropolitana de Caracas por opositores ao governo chavista. O vídeo é devastador.(Disponibilizarei um link no fim da postagem)
Para encerrar o texto gostaria de fazer uma observação sobre o caso. Mesmo que a RCTV tenha manipulado informações, isso não dá ao poder executivo o direito de decidir pelo fim de uma emissora. Em países verdadeiramente democráticos, quando a imprensa age de forma errada, o caso é levado aos tribunais e lá a questão é decidida; como acontece nos EUA. Não foi o caso na Venezuela. Chávez teve mais de cinco anos para levar o caso a júri e não o fez; o que demonstra o caráter autoritário de sua gestão. Desqualificar um adversário com base em provas obtidas de maneira lícita é perfeitamente válido. Se provasse a fraude da RCTV, conseguiria dar um grande golpe na já combalida oposição venezuelana, e de maneira democrática. É notável que todo governo autoritário visa formar uma imprensa chapa-branca. E a Venezuela vai seguindo esse caminho ao comando de Hugo Chávez.
Link para o vídeo "Raio X de uma mentira": http://bocejosdefelicidade.wordpress.com/2007/06/19/raio-x-de-uma-mentira/

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