terça-feira, maio 30, 2006

Sobre a crítica de intelectuais a propaganda e ao capitalismo.

Não é difícil de encontrar em círculos de intelectuais de esquerda, críticos do “consumismo da sociedade capitalista”, tal crítica é amplamente utilizada como forma de atacar o capitalismo e a economia de mercado. A palavra consumismo denota a aquisição de bens supérfluos para a vida humana e geralmente influenciados, como acreditam os intelectuais, por aspectos externos como meios de comunicação e propaganda. Os intelectuais esquerdistas atribuem ao consumismo todo tipo de prejuízos que uma pessoa possa ter por causa do consumo, de corromper os mais jovens incitando-lhes a consumir desde cedo, tentam associá-lo ao egoísmo humano já que uns poucos gastariam muito dinheiro com “besteiras” enquanto muitos outros não tem o que comer etc. Com isso tentam fazer as pessoas se sentirem culpadas por consumir e até sentir desprezo pelas pessoas que tem maior poder aquisitivo.

Esse tipo de crítica não é nova, ela já estava presente no pensamento do filósofo e economista Karl Marx do século XIX, que tentou explicar em suas teses a gênese do capitalismo. Em seus escritos Marx expôs sua crença de que o modelo de produção capitalista para se sustentar precisava que houvesse quem consumisse a produção, e quem consumiria acabaria sendo, entre outras pessoas, aquele mesmo que as produziu, só que o operário recebia em salário um valor muitas vezes inferior ao produto que produziu o que faria se sentir inferiorizado perante o fruto de seu trabalho, mais ao mesmo tempo o produto inspiraria nele um desejo de consumo principalmente porque lhe confere algum status, logo, os produtos fabricados estabeleciam com as pessoas uma relação de “fetichismo de mercadoria” como se as mercadorias exercessem sobre as pessoas um poder transcendente. O conceito de fetiche pela mercadoria, não só não foi abandonado até hoje em pleno século XXI, como a intelectualidade atual incorporou um novo alvo, que são os meios de comunicação e publicidade do qual acreditam ser moldadores de mentes, em tese, são responsáveis por acentuarem um “desejo irracional” para o consumo.

Primeiramente é válido ressaltar que o capitalismo é um sistema econômico onde ocorrem trocas espontâneas, logo, as pessoas são livres para efetuarem suas trocas comerciais de maneira livre, cabendo ao consumidor decidir se vale a pena ou não trocar seu dinheiro pelo produto em questão, portanto quem decide o que é importante ou supérfluo para si é o próprio consumidor e não a “grande” intelectualidade. Segundo, uma refutação aos que atribuem como papel da mídia incentivar o consumismo, é o fato de todos os dias em nossa rotina, sermos bombardeados por propagandas diversas, no rádio, na tv, nos encartes de jornais, em outdoors etc, nem por isso saímos comprando tudo que nos é exposto, o que nós leva a crer que quando compramos algo, o fazemos de forma consciente e não de modo irracional. Terceiro, quando a intelectualidade esquerdista afirma que “a mídia(incluindo a televisão) cria modas a fim de incentivar o consumismo e a futilidade”, estes desconsideram que a moda é criada por pessoas e aceitas por outras pessoas, ai consiste um grande erro do pensamento amplamente aceito pela esquerda, o de tirar do ser humano a responsabilidade por suas escolhas, ora, as pessoas são diferentes entre si, possuem estilos, interesses e gostos diferentes, podendo as vezes se identificarem em grupos ou tribos, mas nunca encontraremos duas pessoas totalmente iguais, ao taxarem certos gostos e modas como fúteis ou artificiais os intelectuais simplesmente desconsideram o direito de ser diferente. Quando criticam a precocidade de consumo juvenil, na maioria das vezes se esquecem de ponderar que cabe as pais porem limites aos desejos de seus filhos lhes ensinando o “valor” do dinheiro e como é difícil ganhá-lo. Em relação aos grandes consumidores que gastam fortunas em compras, esses acabam fomentando o comércio e de forma direta contribuindo para garantir ou até aumentar a demanda por vendedores, garantindo mais empregos, seus gastos acabam pagando os salários dos vendedores que também são consumidores, assegurando o lucro do comerciante que com o dinheiro irá aumentar seu consumo ou contratar mais funcionários investindo no seu negócio abrindo novos postos de trabalho ou deixando o dinheiro no banco gerando crédito a outra pessoa que queira investir montando um empresa, portanto, o sistema capitalista é um ótimo distribuidor de renda. Algumas pessoas porventura acabam gastando mais do podem e assim endividando-se, ai consiste a crítica mais baixa da intelectualidade esquerdista, de afirmar que as pessoas o fazem por pressão da sociedade que impõe valores e produtos da moda a serem consumidos, mas uma vez a cisma dos intelectuais de esquerda em suas análises metodológicas de tirar o foco da responsabilidade do indivíduo sobre seus atos prevalece erroneamente, soube certa vez que uma mulher beneficiada por um programa governamental de distribuição de renda deixou de comprar comida para seu filho para comprar uma televisão, tentar tirar da mãe a responsabilidade de seu ato é um absurdo. E ainda tem os casos de consumo patológico onde indivíduo acaba gastando por doença, onde os intelectuais esquerdistas atribuem ao capitalismo a doença, é como se um médico sugerisse o fim do sexo na humanidade só porque existem distúrbios sexuais na população.

Quanto ao papel da propaganda e marketing, esta tem a função de nos apresentar um produto e como o ser humano tem uma curiosidade inata, uma propaganda pode acabar nos convencendo a consumir um determinado produto, seja por uma propaganda bem elaborada, seja por o produto ter uma embalagem bem feita, ou até por o produto estar na moda, porém se este não for bom e de qualidade, o consumidor não o comprará mais, e ainda fará uma propaganda negativa para seus conhecidos, o que podemos observar é que o consumidor na maioria das vezes não é passivo diante de um produto e sim ativo já que tudo o que é produzido pelo sistema capitalista atende a uma demanda, e não o contrário. Na maioria das vezes que vemos uma propaganda e compramos o produto, antes já estávamos inclinados a comprá-lo, sendo assim a mídia tem menos importância a que os intelectuais de esquerda lhe atribuem. Para exemplificar o que foi dito basta imaginar que você está em um deserto e com muita sede, daí você vê duas barracas sendo ela toda bem ornamentada com frases inteligentes de propaganda e luzes que dão um ar moderno a barraca onde é vendido acarajé com bastante pimenta, ao lado está uma barraca bem simples e sem propaganda nenhuma vendendo água. Em qual delas você gastaria seu dinheiro?

sábado, maio 06, 2006

Atirando no próprio pé

A posição que alguns brasileiros tomaram ao apoiar a decisão do presidente boliviano, Evo Morales, de “nacionalizar” as refinarias de petróleo e gás natural do país, incluindo as da Petrobrás, não pode ser interpretado, senão, como um elogio ao mau- caratismo.

Morales resolveu cumprir uma promessa que fizera na campanha presidencial, de nacionalizar as refinarias que exploram gás natural, a maior delas a Petrobrás dona das duas maiores refinarias do país e que investiu na Bolívia 1,5 bilhão, porém nacionalização implica em pagamento de indenização, o que certamente não será feito vide a atitude de Morales mandar seu exército ocupar as refinarias instaladas na Bolívia, e pesa ainda o fato da Bolívia ser um país pobre, logo, não é difícil prever que o que realmente ocorrerá será uma expropriação, que consiste em tomar um bem sem o devido pagamento de indenização. Que o gás natural é deles ninguém duvida, mas os investimentos são nossos, e a expropriação consiste numa total falta de respeito.
O que esses brasileiros ainda não perceberam, me refiro principalmente aos defensores da integração latino-americana e os integrantes da esquerda sempre dedicados a luta contra o “imperialismo”, é que a Petrobrás é uma empresa estatal, e portanto, é sustentada por dinheiro dos contribuintes, incluindo o dos defensores da causa.

O que transforma o argumento daqueles que defendem o ato de Evo Morales ainda mais simplório, é o fato do presidente boliviano ter mentido mais de uma vez sobre a questão, afirmando que não nacionalizaria os bens da Petrobrás ainda em sua campanha eleitoral.
Morales também quebrou o contrato com a estatal brasileira ao aumentar a participação do governo boliviano nos lucros para 82%, deixando a Petrobrás com míseros 18% o que torna a atuação da Petrobrás ainda mais desvantajosa do que já era, pois segundo analistas, a empresa brasileira já pagava pelo gás natural boliviano um preço maior do que o valor de mercado. A quebra de contrato, mais cedo ou mais tarde, refletirá no aumento do preço, embora executivos da estatal brasileira ainda neguem, prejudicando empresas brasileiras que foram incentivadas pelo governo federal a mudar a matriz energética para gás natural e também os donos de carros que fizeram a conversão de seus veículos. O prejuízo econômico para os brasileiros é iminente.

A situação piora quando até o presidente Lula, que pela importância de seu cargo deveria ser o primeiro a defender os interesses do país, adota uma postura pífia defendendo a atitude de Morales, que a propósito, disse certa vez que o presidente Lula era seu irmão mais velho. Grande irmão esse!

Esse episódio reflete ainda o fracasso dos responsáveis pela política externa brasileira, primeiramente como já foi dito anteriormente, o contrato com os bolivianos foi desvantajoso para o Brasil e ainda foi mantido mesmo com o risco que a vitória de Evo Morales representava, analistas afirmam que essa medida foi aceita pelo presidente Lula com vista a por em prática a tão sonhada integração dos países da América Latina tão apregoada pela esquerda latino-americana, e do qual Lula queria ser o líder, ai consiste o segundo problema, o presidente Lula fazendo proselitismo ideológico com dinheiro público. Porém no reino da América Latina unida, Lula que queria ser rei acabou virando o bobo da corte, já que a ação de Evo Morales teve apóio de Hugo Chávez que deu assessoria técnica treinando bolivianos para poderem melhor operar as empresas recém nacionalizadas. Vale ressaltar que todos os países da América do Sul apoiaram a atitude de Morales.
O terceiro problema está relacionado a cegueira dos governos (FHC e Lula), omitindo-se perante os diversos sinais do risco de se investir na Bolívia, já que o país no passado tomou atitudes semelhantes por duas vezes, e por ser o país constantemente assolado por crises políticas.
Para concluir todo esse episódio cito uma frase de Paulo Francis: “o Brasil é o país onde a burrice tem um passado glorioso, e um futuro promissor.”