domingo, julho 23, 2006


A polêmica das cotas raciais

O lançamento de um Manifesto contra o Projeto de Lei que cria cotas para afrodescendentes, indígenas e estudantes de escolas públicas nas universidades federais, projeto esse que permitiria a esses grupos passarem com notas inferiores aos não beneficiados por esse sistema, e que também protesta contra o Estatuto da Igualdade Racial que visa adotar uma série de medidas polêmicas, entre elas, a obrigatoriedade de que documentos comuns informem a etnia do indivíduo que o porta, projetos esses que tramitam no Congresso Nacional, reacenderam a polêmica sobre a prática de políticas afirmativas visando a integração social de grupos marginalizados.
Quase simultaneamente ao primeiro manifesto, os defensores das cotas lançaram seu manifesto de apoio aos projetos de lei do senador Paulo Paim do PT do Rio Grande do Sul. Entrando nessa polêmica questão, resolvi escrever esse texto baseado em argumentos de ambos os lados, a fim de expor minha opinião sobre o assunto. Uma parte do que escreverei será baseada em textos de alguns autores que farei citação ao longo do texto com o desenrolar da minha argumentação, e para não ficar demasiado longo, darei atenção a questões que considero relevantes nesse tema.
Primeiramente pegarei o que sem dúvida é o “abre alas” da argumentação dos defensores das cotas e de onde todas suas argumentações partem, a questão da “dívida histórica” que toda a sociedade brasileira tem com os afrodescendentes devido ao longo período histórico em que esses foram escravos, e por conseqüência, marginalizados na sociedade.
Em uma dívida existem os credores e os devedores, no caso específico das cotas o credor é a população negra que a mais de um século atrás era em maioria escrava, e o devedor o resto da sociedade. Na argumentação da “dívida histórica” encontramos quatro questões, que se bem analisadas por qualquer pessoa, põem por terra essa argumentação: 1º) A universidade pública é sustentada pelos impostos pagos por todos os contribuintes, logo, uma grande parcela da população afrodescendente(incluindo os pardos) que não tiverem interesse de freqüentar uma universidade pública terão que pagar para uma minoria poder estudar nela; 2º) O Brasil é um país que recebeu um grande contingente de imigrantes, inclusive depois da Abolição da Escravidão em 1888, é justo que esses imigrantes e seus descendentes paguem por um erro que não cometeram?; 3º) É historicamente conhecido que o movimento abolicionista no Brasil surgiu entre a “elite branca”, e que negros brasileiros também possuíam escravos, o que derruba qualquer argumentação maniqueísta que vise culpar somente a “elite branca, má e perversa” pela escravidão no Brasil, se quiséssemos fazer um julgamento justo sobre culpados e inocentes deveríamos fazer um grade catálogo das famílias escravagistas e não escravagistas, o que é quase impossível; 4º) Juridicamente falando, um indivíduo não pode ser responsabilizado pelos erros e crimes de seus pais, avós, bisavós etc, portanto, no que tange a lei, o argumento de que toda a sociedade brasileira do século XXI é responsável pelos erros cometidos pelos seus antepassados é juridicamente inválido, o que não significa que um erro passado não deva ser reparado, contudo, não é através de atos arbitrários que o problema deve ser solucionado.
Esgotada a questão da dívida histórica passarei a tratar do caráter inconstitucional da Lei das Cotas. Ao decretar que um grupo racial tem privilégio de acesso a uma instituição pública, no caso a universidade pública, obtendo no vestibular uma nota inferior aos demais concorrentes não beneficiados, o Projeto de Lei quebra o princípio constitucional de igualdade perante a lei, independente de credo, etnia, ou grupo social. Uma pessoa inclinada a favor das cotas pode argumentar que esse princípio constitucional não se aplica na realidade brasileira, tendo em vista o baixo número de afrodescendentes nas universidades públicas, seja como aluno, seja como professor. Os defensores das cotas, porém , se esquecem(ou fingem esquecer) que na Constituição de 1988 em sua seção da Educação contêm o artigo 205 onde está escrito: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade”; segundo me consta- não tenho nenhum conhecimento de protestos de grupos defensores dos direitos dos afrodescendentes a favor de uma escola pública(primária e secundária) de qualidade, todavia esses grupos não hesitam em protestar em defesa das cotas. Estranho não?
Digo isso porque é indubitável que a educação básica brasileira tem sérios problemas, evidenciados pelo baixo rendimento obtidos recentemente pelos alunos da rede pública brasileira em uma Prova Nacional de português e matemática, e em provas internacionais, onde os alunos brasileiros estão sempre entre as últimas colocações. É indubitável também, que a deficiência na educação básica pública no Brasil é uma explicação para o baixo número de alunos oriundos da rede pública e também de baixa renda(sejam eles brancos,pardos ou negros) nas universidades federais e estaduais, tanto como alunos como professores, pois estes não conseguem, na maioria das vezes, passar no vestibular que é a primeira etapa para se chegar a uma universidade, e porventura fazer carreira nela.
Já que cheguei ao ponto da deficiência do ensino público brasileiro, ressaltarei o caráter populista da lei das cotas. Voltando ao trecho citado da Constituição: “educação, direito de todos e dever do Estado”, mostra claramente que o Estado é responsável pela gestão educacional, se por motivos diversos o Estado se mostra um péssimo gestor em educação, é claramente evidente que a Lei das Cotas é uma forma de “tampar o sol com a peneira”,ou ainda, “empurrar o problema com a barriga”, ao passo que nossos legisladores ainda possam de politicamente corretos e preocupados com a “justiça social”. Uma coisa interessante no Estatuto da Igualdade Racial é que os partidos terão que reservar vagas para negros nas legendas partidárias. Por que nossos legisladores não criam diretamente cotas para deputados e senadores no Congresso Nacional e no Senado, aproveitando essa onda de integração racial?
A maior polêmica em relação a questão das cotas gira em torno da identidade racial, nos EUA, país onde surgiu essas políticas afirmativas de inclusão racial, há uma clara distinção entre negros e brancos, segundo o livro Relativizando do antropólogo brasileiro Roberto DaMatta, nos EUA não há a categoria de pardos, ou seja, mestiços como existe aqui no Brasil, no país da América do Norte qualquer pessoa mesmo com pele clara, se tiver algum parente direto negro ou mestiço, é considerado negro.
No inciso 3 do artigo 1 do Estatuto da Igualdade Racial consta o seguinte trecho: “para efeito deste Estatuto, consideram-se afro-brasileiros as pessoas que se classificam como tais e/ou como negros, pretos, pardos ou definição análoga”, portanto qualquer pessoa que se autodenominar afro-brasileiro poderá requerer cotas, logo, tendo conhecimento da grande miscigenação da sociedade brasileira, essa medida de implantar cotas é inócua. E se por acaso o Estatuto tentasse delinear as raças, estaria caindo num terreno obscuro que no passado foi responsável por um dos capítulos mais trágicos da humanidade, o nazismo.
A propósito, ainda na questão das raças, como bem lembra o jornalista Janer Cristaldo em seu texto “A Extinção do Mulato” (http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=4501): “Nas últimas décadas, os movimentos negros insistiram na idéia de que raça não existe, ser negro seria apenas uma questão de melanina. Quando começou a surgir no Brasil a infeliz idéia ianque de cotas, tanto para a universidade como para admissão em empregos públicos, assistimos a uma súbita reviravolta: raça agora existe e deve ser declarada. O malsinado projeto do senador gaúcho determina que, em várias circunstâncias – no Sistema Único de Saúde, nos sistemas de informação da Seguridade Social, em todos os registros administrativos direcionados aos empregadores e aos trabalhadores do setor privado e do setor público – o quesito raça/cor será obrigatoriamente introduzido e coletado, de acordo com a autoclassificação”. Curiosamente depois de anos negando o conceito de raça os afrodescendentes agora o defendem, incrível não?
A idéia de que as cotas provocariam medidas racistas ainda não pode ser comprovada no Brasil, pelo que tenho conhecimento nas universidades em que já existem cotas ainda não foram registrados nenhum caso explícito de racismo, mas segundo nos relata o economista Thomas Sowell foi justamente após a adoção de políticas afirmativas nos EUA, que ocorreram uma série de problemas nesse sentido, ver: (http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=4731). Aqui no Brasil, uma pesquisa feita no campus da UERJ mostra a desaprovação que a adoção de cotas gerou entre a comunidade acadêmica(http://www.universia.com.br/html/noticia/noticia_clipping_cjf.html). O relato de Sowell e a pesquisa feita na UERJ devem servir como reflexão sobre a validade de se implantar um sistema desses no Brasil sabendo que aqui brancos e negros vivem de maneira relativamente pacífica.
O leitor ou a leitora que chegou até aqui já percebeu com clareza que eu me posiciono contra as cotas, mas não posso deixar de contra-argumentar um ponto de vista dos anti-cotas -a idéia de que o ensino das universidades públicas piorará com a entrada dos cotistas- segundo um estudo preliminar feito na UERJ, a primeira universidade brasileira a adotar as cotas, foi feita a seguinte observação- “ Entre os estudantes que entraram por cotas raciais ou da escola pública, 49% foram aprovados em todas as disciplinas. Entre os que não entraram por cotas, essa porcentagem foi de 47%.”; ver: (http://aprendiz.uol.com.br/content.view.action?uuid=7b1e6b090af47010017546999a456b7a ). É lógico que esse é apenas um estudo preliminar, e se por algum acaso a qualidade do ensino da UERJ piorou (o que não é fato) isso se deveria mais aos sucessivos cortes de verba da instituição feitos pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, do que propriamente culpa dos cotistas. Por outro lado esse aparente sucesso não deve ser visto como um bom argumento para se defender as cotas, pois na pesquisa não é dito os dados dos cursos em separado(o que não invalida a argumentação de grande evasão e reprovação em cursos como Engenharia e Medicina), e é notável que um cotista agarraria com unhas e dentes uma oportunidade dessas, a pergunta que fica é a seguinte: se alguns cotistas são capazes de se manter bem nos cursos superiores, por que não seriam capazes de passarem no vestibular também sem a ajuda de cotas?
Termino esse texto concluindo que as cotas são em tese uma política equivocada por romper com o princípio do mérito, inconstitucional por ter a raça como uma característica de acesso privilegiado a uma universidade, não efetiva pois não há nenhuma garantia de que o problema da educação básica seja resolvido, populista, perigosa a medida que atos racistas e preconceituosos possam ser praticados por causa desse projeto de lei, além de ser falaciosa em sua argumentação. Como já disse anteriormente, não será com medidas arbitrárias que o problema da inclusão racial ou social será resolvido no Brasil, seria esplendoroso se pudéssemos acabar com todas as nossas mazelas apenas por decreto, mas isso de fato é impossível.

terça-feira, maio 30, 2006

Sobre a crítica de intelectuais a propaganda e ao capitalismo.

Não é difícil de encontrar em círculos de intelectuais de esquerda, críticos do “consumismo da sociedade capitalista”, tal crítica é amplamente utilizada como forma de atacar o capitalismo e a economia de mercado. A palavra consumismo denota a aquisição de bens supérfluos para a vida humana e geralmente influenciados, como acreditam os intelectuais, por aspectos externos como meios de comunicação e propaganda. Os intelectuais esquerdistas atribuem ao consumismo todo tipo de prejuízos que uma pessoa possa ter por causa do consumo, de corromper os mais jovens incitando-lhes a consumir desde cedo, tentam associá-lo ao egoísmo humano já que uns poucos gastariam muito dinheiro com “besteiras” enquanto muitos outros não tem o que comer etc. Com isso tentam fazer as pessoas se sentirem culpadas por consumir e até sentir desprezo pelas pessoas que tem maior poder aquisitivo.

Esse tipo de crítica não é nova, ela já estava presente no pensamento do filósofo e economista Karl Marx do século XIX, que tentou explicar em suas teses a gênese do capitalismo. Em seus escritos Marx expôs sua crença de que o modelo de produção capitalista para se sustentar precisava que houvesse quem consumisse a produção, e quem consumiria acabaria sendo, entre outras pessoas, aquele mesmo que as produziu, só que o operário recebia em salário um valor muitas vezes inferior ao produto que produziu o que faria se sentir inferiorizado perante o fruto de seu trabalho, mais ao mesmo tempo o produto inspiraria nele um desejo de consumo principalmente porque lhe confere algum status, logo, os produtos fabricados estabeleciam com as pessoas uma relação de “fetichismo de mercadoria” como se as mercadorias exercessem sobre as pessoas um poder transcendente. O conceito de fetiche pela mercadoria, não só não foi abandonado até hoje em pleno século XXI, como a intelectualidade atual incorporou um novo alvo, que são os meios de comunicação e publicidade do qual acreditam ser moldadores de mentes, em tese, são responsáveis por acentuarem um “desejo irracional” para o consumo.

Primeiramente é válido ressaltar que o capitalismo é um sistema econômico onde ocorrem trocas espontâneas, logo, as pessoas são livres para efetuarem suas trocas comerciais de maneira livre, cabendo ao consumidor decidir se vale a pena ou não trocar seu dinheiro pelo produto em questão, portanto quem decide o que é importante ou supérfluo para si é o próprio consumidor e não a “grande” intelectualidade. Segundo, uma refutação aos que atribuem como papel da mídia incentivar o consumismo, é o fato de todos os dias em nossa rotina, sermos bombardeados por propagandas diversas, no rádio, na tv, nos encartes de jornais, em outdoors etc, nem por isso saímos comprando tudo que nos é exposto, o que nós leva a crer que quando compramos algo, o fazemos de forma consciente e não de modo irracional. Terceiro, quando a intelectualidade esquerdista afirma que “a mídia(incluindo a televisão) cria modas a fim de incentivar o consumismo e a futilidade”, estes desconsideram que a moda é criada por pessoas e aceitas por outras pessoas, ai consiste um grande erro do pensamento amplamente aceito pela esquerda, o de tirar do ser humano a responsabilidade por suas escolhas, ora, as pessoas são diferentes entre si, possuem estilos, interesses e gostos diferentes, podendo as vezes se identificarem em grupos ou tribos, mas nunca encontraremos duas pessoas totalmente iguais, ao taxarem certos gostos e modas como fúteis ou artificiais os intelectuais simplesmente desconsideram o direito de ser diferente. Quando criticam a precocidade de consumo juvenil, na maioria das vezes se esquecem de ponderar que cabe as pais porem limites aos desejos de seus filhos lhes ensinando o “valor” do dinheiro e como é difícil ganhá-lo. Em relação aos grandes consumidores que gastam fortunas em compras, esses acabam fomentando o comércio e de forma direta contribuindo para garantir ou até aumentar a demanda por vendedores, garantindo mais empregos, seus gastos acabam pagando os salários dos vendedores que também são consumidores, assegurando o lucro do comerciante que com o dinheiro irá aumentar seu consumo ou contratar mais funcionários investindo no seu negócio abrindo novos postos de trabalho ou deixando o dinheiro no banco gerando crédito a outra pessoa que queira investir montando um empresa, portanto, o sistema capitalista é um ótimo distribuidor de renda. Algumas pessoas porventura acabam gastando mais do podem e assim endividando-se, ai consiste a crítica mais baixa da intelectualidade esquerdista, de afirmar que as pessoas o fazem por pressão da sociedade que impõe valores e produtos da moda a serem consumidos, mas uma vez a cisma dos intelectuais de esquerda em suas análises metodológicas de tirar o foco da responsabilidade do indivíduo sobre seus atos prevalece erroneamente, soube certa vez que uma mulher beneficiada por um programa governamental de distribuição de renda deixou de comprar comida para seu filho para comprar uma televisão, tentar tirar da mãe a responsabilidade de seu ato é um absurdo. E ainda tem os casos de consumo patológico onde indivíduo acaba gastando por doença, onde os intelectuais esquerdistas atribuem ao capitalismo a doença, é como se um médico sugerisse o fim do sexo na humanidade só porque existem distúrbios sexuais na população.

Quanto ao papel da propaganda e marketing, esta tem a função de nos apresentar um produto e como o ser humano tem uma curiosidade inata, uma propaganda pode acabar nos convencendo a consumir um determinado produto, seja por uma propaganda bem elaborada, seja por o produto ter uma embalagem bem feita, ou até por o produto estar na moda, porém se este não for bom e de qualidade, o consumidor não o comprará mais, e ainda fará uma propaganda negativa para seus conhecidos, o que podemos observar é que o consumidor na maioria das vezes não é passivo diante de um produto e sim ativo já que tudo o que é produzido pelo sistema capitalista atende a uma demanda, e não o contrário. Na maioria das vezes que vemos uma propaganda e compramos o produto, antes já estávamos inclinados a comprá-lo, sendo assim a mídia tem menos importância a que os intelectuais de esquerda lhe atribuem. Para exemplificar o que foi dito basta imaginar que você está em um deserto e com muita sede, daí você vê duas barracas sendo ela toda bem ornamentada com frases inteligentes de propaganda e luzes que dão um ar moderno a barraca onde é vendido acarajé com bastante pimenta, ao lado está uma barraca bem simples e sem propaganda nenhuma vendendo água. Em qual delas você gastaria seu dinheiro?

sábado, maio 06, 2006

Atirando no próprio pé

A posição que alguns brasileiros tomaram ao apoiar a decisão do presidente boliviano, Evo Morales, de “nacionalizar” as refinarias de petróleo e gás natural do país, incluindo as da Petrobrás, não pode ser interpretado, senão, como um elogio ao mau- caratismo.

Morales resolveu cumprir uma promessa que fizera na campanha presidencial, de nacionalizar as refinarias que exploram gás natural, a maior delas a Petrobrás dona das duas maiores refinarias do país e que investiu na Bolívia 1,5 bilhão, porém nacionalização implica em pagamento de indenização, o que certamente não será feito vide a atitude de Morales mandar seu exército ocupar as refinarias instaladas na Bolívia, e pesa ainda o fato da Bolívia ser um país pobre, logo, não é difícil prever que o que realmente ocorrerá será uma expropriação, que consiste em tomar um bem sem o devido pagamento de indenização. Que o gás natural é deles ninguém duvida, mas os investimentos são nossos, e a expropriação consiste numa total falta de respeito.
O que esses brasileiros ainda não perceberam, me refiro principalmente aos defensores da integração latino-americana e os integrantes da esquerda sempre dedicados a luta contra o “imperialismo”, é que a Petrobrás é uma empresa estatal, e portanto, é sustentada por dinheiro dos contribuintes, incluindo o dos defensores da causa.

O que transforma o argumento daqueles que defendem o ato de Evo Morales ainda mais simplório, é o fato do presidente boliviano ter mentido mais de uma vez sobre a questão, afirmando que não nacionalizaria os bens da Petrobrás ainda em sua campanha eleitoral.
Morales também quebrou o contrato com a estatal brasileira ao aumentar a participação do governo boliviano nos lucros para 82%, deixando a Petrobrás com míseros 18% o que torna a atuação da Petrobrás ainda mais desvantajosa do que já era, pois segundo analistas, a empresa brasileira já pagava pelo gás natural boliviano um preço maior do que o valor de mercado. A quebra de contrato, mais cedo ou mais tarde, refletirá no aumento do preço, embora executivos da estatal brasileira ainda neguem, prejudicando empresas brasileiras que foram incentivadas pelo governo federal a mudar a matriz energética para gás natural e também os donos de carros que fizeram a conversão de seus veículos. O prejuízo econômico para os brasileiros é iminente.

A situação piora quando até o presidente Lula, que pela importância de seu cargo deveria ser o primeiro a defender os interesses do país, adota uma postura pífia defendendo a atitude de Morales, que a propósito, disse certa vez que o presidente Lula era seu irmão mais velho. Grande irmão esse!

Esse episódio reflete ainda o fracasso dos responsáveis pela política externa brasileira, primeiramente como já foi dito anteriormente, o contrato com os bolivianos foi desvantajoso para o Brasil e ainda foi mantido mesmo com o risco que a vitória de Evo Morales representava, analistas afirmam que essa medida foi aceita pelo presidente Lula com vista a por em prática a tão sonhada integração dos países da América Latina tão apregoada pela esquerda latino-americana, e do qual Lula queria ser o líder, ai consiste o segundo problema, o presidente Lula fazendo proselitismo ideológico com dinheiro público. Porém no reino da América Latina unida, Lula que queria ser rei acabou virando o bobo da corte, já que a ação de Evo Morales teve apóio de Hugo Chávez que deu assessoria técnica treinando bolivianos para poderem melhor operar as empresas recém nacionalizadas. Vale ressaltar que todos os países da América do Sul apoiaram a atitude de Morales.
O terceiro problema está relacionado a cegueira dos governos (FHC e Lula), omitindo-se perante os diversos sinais do risco de se investir na Bolívia, já que o país no passado tomou atitudes semelhantes por duas vezes, e por ser o país constantemente assolado por crises políticas.
Para concluir todo esse episódio cito uma frase de Paulo Francis: “o Brasil é o país onde a burrice tem um passado glorioso, e um futuro promissor.”

segunda-feira, abril 24, 2006

A outra face de alguns movimentos sociais

O que você acha dos movimentos sociais?

Assim como eu, acredito que grande parte das pessoas vejam com simpatia os movimentos sociais, construiu-se em nossas imaginações um senso comum sobre a pureza de tais movimentos. A alguns anos atrás, por diversas vezes fui estimulado a ter uma visão positiva e idealizada dos movimentos populares, incentivado por professores, livros, músicas e filmes. Isso fez com que eu assimilasse que todos os movimentos da mesma natureza fossem manifestações legítimas dos oprimidos lutando por dignidade e justiça social, ou seja, era influenciado pelo discurso politicamente correto. Acredito que seja o caso também de grande parte das pessoas quando pensam sobre o assunto.

Lembro-me de uma novela muito famosa que contava com um ar romantizado a saga dos sem-terra lutando pelo direito a ter um pedaço de terra, invadindo propriedades privadas e enfrentando os “insensíveis” e “egoístas” donos de fazendas, que na novela não hesitavam em usar a força contra os “pobres excluídos“, essa novela acabou despertando na opinião pública, simpatia por movimentos como o MST, alguns incidentes como o ocorrido em Eldorado- Carajás(PA) no ano de 1996 onde 19 sem-terra foram mortos em confronto com policiais, fato esse muito bem manipulado pelos sem-terra, acabou contribuído ainda mais para arregimentar simpatizantes ao movimento.
Porém, nem a novela em questão, nem a imprensa na época do conhecido episódio de Eldorado- Carajás se preocuparam muito em avaliar os dois lados da história, primeiro a constituição brasileira garante o direito a propriedade privada, sendo o desrespeito a esse direito um crime, segundo, os sem-terra não correspondem a imagem boazinha que se tentou construir sobre eles, vale ressaltar que no caso ocorrido no Pará os membros do MST partiram para cima dos policiais com facões e foices, e os policiais apenas se defenderam de um ataque iminente, basta ver a gravação feita do acontecimento para se chegar a essa conclusão.

Recentemente os meios de comunicação noticiaram diversos abusos por parte do MST e outros movimentos do gênero, entre eles, a destruição de um laboratório que realizava pesquisas genéticas com eucaliptos, jogando na lata do lixo vários anos de dedicação dos pesquisadores, depredação do prédio do Ministério da Fazenda em um protesto, no dia em que o massacre no Pará completou 10 anos, os sem-terra empreenderam dois saques contra caminhoneiros e promoveram várias invasões, sendo a ação do grupo nada mais nada menos que ações dignas de vândalos.

Recentemente também, foi noticiado em um importante jornal do país que membros da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e do PT (Partido dos Trabalhadores), partido do atual presidente da República agrediram estudantes de uma universidade pública do Estado de São Paulo e em outra ocasião, funcionários de um hospital que tentavam fazer um protesto contra o presidente Lula, os estudantes foram agredidos a socos, pontapés, e até queimaduras de cigarro, e com bordões como “Abaixo a burguesada, quem manda aqui é a peãozada” e “ Ô burguesia pode esperar, a sua hora vai chegar”, foram expulsos do ato público do qual o presidente participava, para completar o episódio, um metalúrgico ligado a CUT afirmou que seus colegas de sindicato -apenas- tentaram impedir que “os burgueses falassem mal do nosso presidente”, logo percebe-se o caráter antidemocrático na fala do metalúrgico, isso lembrando que tanto PT quanto a CUT ganharam notoriedade nos anos 80 com o fim da Ditadura Militar, como movimentos sociais que defendiam a democracia, a igualdade e a ética. Incoerente, não?

Quando entrei para a UERJ no ano de 2004 presenciei uma paralisação promovida pelos servidores da universidade exigindo aumento salarial e melhores condições de trabalho, reivindicação justa, porém o modo como os servidores protestaram foi arbitrário, eles simplesmente trancaram o acesso aos elevadores da universidade e simplesmente acusavam de fascista aqueles que questionavam a decisão, uma ação insensata pois eles estavam tentando impor seu direito de protestar por melhores salários, ao direito de ir e vir das pessoas . Naquele episódio cheguei a conclusão de que uma das manifestações do autoritarismo consiste em acreditar, e por conseqüência tentar impor sua vontade e seu direito, julgando-o mais importante do que o direito dos outros.

Para concluir, venho compartilhar com os leitores a moral que tirei de toda essa história, nunca aceitem como verdadeiro, antes de um processo de avaliação e questionamento, as idéias de pureza e perfeição sobre algo, sob o risco de cometerem o mesmo erro que cometi no passado, quando fui seduzido pelo discurso politicamente correto a respeito das movimentos sociais.

quinta-feira, abril 13, 2006

Poesia 3


Canção da Melissa


O que fazer?
Quando não há motivo pra viver
Quando os dias são sempre escuros
E as noites são sempre longas
Ela pegou uma arma
E seu mundo desaba, em trevas como solução
O que fazer?
Quando não há razão pra viver
Quando os dias são sempre escuros
E as noites são sempre longas
Quando não há razão para acreditar
Vivendo um dia após o outro
Sem esperança de melhorar
Ela pegou uma arma
E seu mundo desaba, em trevas como solução
Era alcoólatra, viciada em drogas
E seu mundo desabou.

domingo, abril 09, 2006

Poesia 2
Rosa Vermelha
A rosa vermelha,
Que estava em cima da mesa,
Murchou, como nosso amor
A rosa vermelha murchou
Como paixão adolescente,
Amor carente
Que não se pode entender
A rosa vermelha murchou
E com ela nosso amor
Um amor inocente
Que não se perpetuou
Mas agora não adianta chorar,
Nem se lamentar
Porque a rosa vermelha
Que estava em cima da mesa, murchou.
Júlio Cardoso

sábado, abril 08, 2006

Poesia 1
Deus
O que é Deus para você?
Para mim Deus é
O som do do vento batendo nas folhas das árvores
O canto dos pássaros
O pôr-do-sol
O brilho das estrelas
O desabrochar de uma rosa
O sorriso de quem amamos
A alegria de um reencontro
E a tristeza de uma despedida
Essas pequenas coisas da vida
Que as vezes não damos importância.
Júlio Cardoso